Empreendedor cria camisas exclusivas e alavanca negócios no verão

Dado Loko
Arquivo/JBO/Maurício Maron

Traços e cores que garantem um trabalho estilizado e peças únicas, exclusivas. Temáticas que revelam uma luta contra o preconceito. Cabelos, gestos, frases e inspirações de protagonistas universais como Nelson Mandela, Bob Marley e Malcolm X. O trabalho do microempreendedor individual de Ilhéus, Aldo Santos Silva, de 36 anos, é mais do que uma garantia de sobrevivência: é um estímulo ao senso crítico sobre a gravidade do racismo e a importância da valorização da estética na cultura afro-brasileira. As obras ultrapassam fases e períodos históricos e podem sugerir um belo presente. “É importante no seu trabalho criar um senso crítico sobre a sociedade em que você vive, independentemente da época do ano”, assegura Aldo, mais conhecido em Ilhéus como Dado Loko.

Na confecção de suas camisas – modelo único a cada inspiração ou encomenda – ele usa a técnica do stencil art, feita de papel, papelão ou outros meios para criar uma imagem ou texto facilmente reprodutível. No verão, o empreendedor chega a pintar 200 camisas por mês. As encomendas são feitas pelo Facebook e WhatsApp, e o pagamento via depósito bancário. Os preços variam de R$ 35 a R$ 60, de acordo com o grau de dificuldade da confecção. Clientes de outros estados chegam a pagar quase o valor de uma camisa, somente de frete, para ter um modelo estilizado pelo artista. Hoje, é essa arte que cobre suas despesas. “Vivo disso, pode acreditar, vivo da minha arte”, conta.

Fã do estilo reggae, a temática passou a ser a grande marca do trabalho do artista. Além de conquistar o público regional, Dado também conquistou artistas nacionais que aliam a arte musical ao combate do racismo e preconceito. Bandas como Adão Negro, de Salvador, Mato Seco, de São Paulo, Ponto de Equilíbrio e O Rappa, do Rio de Janeiro, passaram a vestir as camisas do empreendedor durante os shows e nas entrevistas coletivas. Hoje, ele não trabalha apenas para este segmento ou estilo. A sua mais recente novidade é transformar os uniformes de clubes de futebol em peças únicas, diferentes e estilizadas.

Trauma que virou profissãoA proposta de trabalho é resultado de um trauma da juventude. Em 2002, Dado foi a uma festa onde dois outros jovens usavam uma camisa igual a dele, quando uma briga generalizada aconteceu. “Temi que achassem que tinha sido eu o responsável”. Daquele dia em diante, o artista resolveu inovar. Primeiro, para si próprio. “Fazia camisas para uso pessoal. As pessoas começaram a gostar e a fazer encomendas. Não parei mais”, lembra. Em 2010, Dado resolveu levar a ideia um pouco mais a sério. Procurou o Sebrae, formalizou-se como Microempreendedor Individual (MEI) e profissionalizou o que era, até então, apenas uma diversão.

“A criatividade e a inovação são peças chaves para o sucesso de qualquer negócio, independente do porte”, destaca o gerente adjunto do Sebrae Ilhéus, Michel Lima. “O empreendedor, a todo tempo, tem como característica principal a necessidade de inovar”, completa.

Para Lima, quando o produto ou serviço é diferenciado, o consumidor apresenta-se mais disposto a pagar um valor maior e o empreendedor poderá obter mais reconhecimento por seu trabalho. “Com a inovação, o cliente consegue enxergar o ‘valor’ acima do preço. Além disso, Aldo mostra que ações de Responsabilidade Social podem e devem ser executadas”, afirma.

Aldo destaca também a importância do Sebrae para empreendedores como ele. “A instituição é um mecanismo essencial para os microempreendedores individuais. Com o Sebrae, temos suporte técnico no desenvolvimento comercial, estudo de mercado, análise do projeto e do produto”, conta.

Projeto socialNão bastasse o trabalho que lhe rende dinheiro, Dado, também estudante de Ciências Sociais, na Universidade Estadual de Santa Cruz, mantém gratuitamente um projeto social intitulado "Arte e anti racismo; valorizando a estética e cultura afro”, onde desperta a questão do combate ao racismo e luta pela afirmação da identidade negra. O projeto é desenvolvido em escolas e eventos sociais, em bairros da periferia de Ilhéus. Numa oficina, o grupo aprende a desenvolver a mesma técnica usada por ele e pinta camisas com a temática de objetos e personagens que tenham essa ligação de afirmação social.

Contatos de Aldo Santos Silva (Dado Loko)
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